sábado, 7 de novembro de 2009

Totnes - 4

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A metáfora da cereja em cima do bolo

A economia rural diversificada, que sustentou as comunidades humanas durante séculos, foi desmantelada pela globalização e atirada para as gavetas da história, explica Rob Hopkins na sua obra The Transition Handbook, um manual, um guia da transição. A metáfora do bolo ajuda a compreendê-lo.
Em Totnes, antes da chegada do comboio em 1850, a cidade e os arredores eram largamente auto-suficientes. O leite, o queijo, a carne, os legumes e frutos da época, assim como o essencial dos materiais de construção e certas artesanias, eram locais até à revolução industrial, durante a qual a produção foi deslocada (deslocalizada!) para o norte da Inglaterra. O que chegava em barcos de cabotagem, para ser descarregado nos cais do rio Dart, eram materiais de construção que vinham do Báltico, e maçãs da Bretanha para o fabrico da sidra. A região consumia e exportava uma grande quantidade de sidra, mas não produzia maçãs suficientes.
Se por qualquer razão estas embarcações não chegavam a bom porto, a região podia adaptar-se. Era resiliente, isto é, capaz de encaixar os choques e perturbações. O bolo era produzido localmente, e apenas o creme e a cereja eram importados.
Hoje é o inverso. O bolo é importado de qualquer parte do mundo, donde for mais barato. E a agricultura local limita-se a produzir o creme e as cerejas. Evoluímos da resiliência para a dependência. Para remediar isso, devemos agir colectivamente e já.
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