10 de Novembro, entre as dezasseis horas e trinta minutos e as dezassete da tarde, ali a qualquer quilómetro da A2, entre Grândola e Almodôvar, no rádio do carro surge, na Antena 1, uma pequena reportagem sobre três aldeias do distrito da Guarda, três aldeias “que não cantam”. Aldeias que, em minha opinião, merecem a atenção do jornalista apenas por terem gerado três vultos importantes da vida portuguesa: Porto de Ovelha e o Procurador-geral da República, S. Pedro de Rio Seco e o Dr. Eduardo Lourenço e Vide com o Dr. Almeida Santos.
Pus o volume do rádio um pouco mais alto, e o repórter aparece em Porto de Ovelha, reportando, à medida que se vai embrenhando nas ruas, o silêncio em volta, a ausência de pessoas nas ruas desertas, o abandono em que as casas se encontram. De repente, lá aparece uma residente, que respondendo, com a experiência dos seus oitenta e poucos anos, às perguntas do jornalista, vai fazendo a comparação entre os tempos da sua meninice e juventude e os tempos de agora.
Na Procuradoria-geral da República, o Sr. Procurador recorda os tempos da sua meninice, o tempo das férias do Verão, Natal e Páscoa, com o rio Côa a servir de piscina natural, dizendo que as casas e ruas são as mesmas, o rio é o mesmo e no mesmo lugar, só o que lá não está são as pessoas.
Reportagem curta e quase deserta de soluções, como deserta está a aldeia em que acaba de aparecer: S. Pedro do Rio Seco.
Avança sem encontrar vivalma e apenas se detém no Largo Eduardo Lourenço. De uma breve conversa que mantém com o Sr. Augusto Limão e, um pouco mais adiante, com a senhora Rufina, ficam algumas ideias: S. Pedro já não é o que era, antigamente uma aldeia cheia de juventude e de adultos trabalhadores; agora, o que vale é a proximidade com a Espanha, onde os rapazes de S. Pedro vão encontrando trabalho, mas com uma certa dificuldade, por causa da crise que também por lá reina. As poucas crianças que ainda existem frequentam a escola em Vilar Formoso ou em Almeida. É que a escola existente, fechou para férias e não mais abriu.
O jornalista ouviu de seguida, em Lisboa, o Dr. Eduardo Lourenço que expõe ideias não diferentes das expressas em outras ocasiões. No entanto, uma expressão me chamou a atenção: “Apenas um milagre …”
Passou para Vide, aldeia que deixo de lado por não ser do nosso concelho, por ter ainda cerca de quarenta crianças na escola, por estar inserida na região da Serra da Estrela e a única semelhança que tem com as duas anteriores é dela ser natural o Dr. Almeida Santos, vulto da Política e da cultura.
Terminada a curta reportagem, veio-me à cabeça o ditado popular que diz.”Fia-te na Virgem e não corras …”
Sei que é uma forma de expressão, mas bem podemos todos Sampedrenses esperar sentados que tal milagre aconteça, que, se nada fizermos, dificilmente acontecerá.
No entanto, com maior ou menor apoio da Virgem, começamos a ver e sentir os primeiros pequenos milagres alcançados por pessoas que começaram a dar os primeiros passos de corrida. Esses primeiros passos começaram a ser dados por todos os conterrâneos que, graças ao gosto que têm por S. Pedro e à custa das suas economias têm reconstruído as suas casas. É um prazer percorrer as ruas de S. Pedro e, ao dobrar de cada esquina, deparar com uma casa reconstruída ou pintada e com um muro arranjado. Outras “corridas”, não tão pequenas quanto isso, têm sido dadas pela Junta de Freguesia. Todos as conhecemos e delas somos testemunhas.
Uma outra “corrida” começou a ser sonhada, há alguns anos, por alguns conterrâneos que, por inércia ou por não saberem bem como, não a levaram à prática. Foi necessário que o Dr. Luís Queirós, talvez com o apoio da Sª. dos Bons Sucessos, congregando os sonhos desses conterrâneos que continuavam a sonhar, desse o imprescindível empurrão e reunisse na sua casado Lagar, à Lancha do Forte, em 9 de Agosto de 2009, um grupo de conterrâneos ou a S. Pedro ligados por laços de afinidade e simpatia, que, após uma troca de ideias assumiram conjuntamente o compromisso de constituir, em S. Pedro do Rio Seco, uma Associação de pessoas que comunguem dos mesmos ideais, e alimentem os mesmos propósitos constantes da Declaração que foi chamada “Declaração de S. Pedro”.
Outras etapas estão em marcha, de modo a que, pouco a pouco, congregando todos os conterrâneos, se vá alcançando o tal MILAGRE que o Dr. Eduardo Lourenço tanto anseia.
Nota: As fotografias mostram alguns dos pequenos (suaves) milagres que vêm acontecendo.
António Lourenço André
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
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Já há alguns dias que não passava por aqui.Hoje,tal como outros dias, lembrei-me de São Pedro ao dialogar com os meus alunos acerca do que era uma aldeia. Então surgiram alguns textos a falar sobre a aldeia de origem dos pais.Todos os textos lidos por eles focavam a desertificação e que em Agosto as aldeias tinham mais vida.Também eu aproveitei eacabei por falar na aldeia dos meus pais e do local onde me desloco com alguma frequência.
ResponderEliminarÉ uma realidade e um dia destes falando com a minha mãe, Brigida, ao telefone me contava que já tinhamos menos um habitante, o senhor Arménio que eu conheci muito bem na Guarda.Senti na voz da minha mãe, uma tristeza ao dizer-me que os habitantes de São Pedro da sua idade ou estão doentes ou já faleceram.É necessário, de facto que aconteça um milagre e que São Pedro volte a ter mais vida e que mais pessoas possam divulgar a nossa localidade.
Até à próxima Mª da Graça