segunda-feira, 1 de março de 2010

Notas de viagem a S. Pedro (no Carnaval)

O frio

Desta vez, o mercúrio do termómetro veio por aí abaixo. Já me tinha esquecido deste frio agreste e cortante que nos penetra até à medula dos ossos, que nos paralisa os movimentos e nos embota o pensamento. Em apenas três dias, passados em Almeida e S. Pedro, recordei o pesadelo das frieiras, o vento que cortava as orelhas, e, sobretudo, interroguei-me sobre forma de viver antiga quando se passavam os invernos ao redor das braseiras, sem aquecimento central, sem água quente, sem casa de banho. Quase tive pena da criança que fui, na Casa da Varanda, em S. Pedro do Rio Seco.

O almoço na Bichoeira

O ponto alto desta viagem foi o almoço no rancho da Bichoeira, do Amândio Caldeira. Desta vez foi o Francisco Falcão o mestre cozinheiro do repasto. A salada era de meruges ou regojos, recém cortados numa regadeira do Valedelacobra. Esta iguaria devolveu-me um gosto esquecido e quase perdido. Também o bucho, as carnes do cozido, os grelos e o feijão com cascas à moda transmontana estavam divinais.
A lareira farta fazia lembrar o dia da matança do porco, o ambiente não poderia ser melhor. O Prof. André chegou mais tarde, tinha-se esquecido do convite para o almoço, coisa imperdoável. Mas ainda veio a tempo de um convívio franco e salutar.

Ti Arménio Caldeira

o ti Arménio morreu num dia de frio e foi enterrar no dia de Entrudo. Era verdadeiramente um homem de S Pedro. Afoito e com ideais próprios foi seguramente contrabandista na sua juventude, histórias picarescas do tempo em que havia "mocidade" em S. Pedro não lhe faltariam para contar. Era filho do ti César Caldeira e irmão do bom e dócil Anísio que me tratava por filho da Senhora Laura.
Foi um frequentador assíduo da taberna do ti Zé Queirós na Guarda, um devoto da mãe Aida a quem admirava e respeitava. Nós gostávamos daquela maneira franca aberta e sonora de falar e de opinar. O ti Arménio era benfiquista de alma e coração, do tempo em que o Benfica se orgulhava de ter só jogadores portugueses na equipa. Naquela noite fria, na Igreja de S. Pedro, ainda pude cumprimentar os filhos que velavam o corpo do pai.

PS: a foto é do André Cid com uma pequena cosmética da minha autoria

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