quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Concelhos do interior: o drama da ausência de estratégia para o futuro

Fonte Romana em S.Pedro

Com a população envelhecida e sem actividades produtivas relevantes, os concelhos do interior do país, em particular os da raia beirã, têm vivido como que entorpecidos e estão economicamente debilitados. Têm sido alimentados por”balões de oxigénio” que se está a esgotar. O seu futuro é preocupante. Torna-se urgente começar a delinear uma estratégia que sirva para os recuperar. Os governantes, os autarcas, responsáveis por encontrar as respostas necessárias, não poderão ficar indiferentes. Há que fazer o diagnóstico e começar a equacionar as soluções para o tratamento que se impõe.

A partir dos anos do pós-guerra, como consequência do grande crescimento económico mundial que conduziu ao fenómeno da globalização e levou à evasão das gentes do campo para as cidades atraídas pelo emprego que possibilitava uma melhor economia e maior conforto, foi desaparecendo o modo de vida rural e a economia de subsistência que caracterizava o dia-a-dia das gentes de Riba-Côa. Seguiu-se um período durante o qual as remessas dos emigrantes, o regresso dos retornados de África, as subvenções sociais e os subsídios dos governos local e central, sobretudo nos anos que se seguiram à adesão de Portugal à União Europeia, originaram um progresso aparente (na medida em que não se criou riqueza nem se desenvolveu a produção local) que permitiu renovar as casas, pavimentar as ruas, trazer a água, a electricidade e o saneamento. As aldeias e vilas do interior passaram a encher-se no mês de Agosto e a esvaziar-se no resto do ano.

O turismo, animado pelo aumento da mobilidade trazido pelo automóvel, pelo maior tempo de lazer e pelo maior desafogo económico das populações, surgiu como a grande aposta de desenvolvimento para certas regiões rurais; iniciativas avulsas como a criação das aldeias históricas, alimentaram a ilusão de que existia um elevado potencial turístico. Mas não se criaram os “produtos” adequados nem apareceram os equipamentos necessários, nomeadamente na hotelaria, para lhes dar sequência.

As obras públicas, as recuperações de casas e alguma construção nova promovida pelos filhos da terra, ausentes, empregaram gente e animaram a actividade económica mas não se viram aparecer estruturas produtivas. O comércio tradicional (por exemplo, as tabernas e as mercearias das aldeias) foi desaparecendo, os novos supermercados dum e doutro lado da fronteira, roubaram-lhe o lugar e parecem prosperar; mas é ilusória a sua dinâmica como factor de desenvolvimento, pois apenas servem para escoar os produtos que vêm de fora, não estimulando a produção local.

O futuro é muito incerto: o ciclo da emigração para a Europa iniciado nos anos 60, já se fechou; o ciclo dos subsídios que sobreveio após a adesão à CEE, vai acabar dentro de poucos anos. A agravar as coisas o mundo atravessa um tempo de crise: é a crise energética, que irá provocar uma menor mobilidade das pessoas e a uma desaceleração do crescimento económico; é a crise financeira que arrasta para a falência grandes instituições bancárias e complica a vida aos que recorrem ao crédito para desenvolver novos negócios. Estas crises irão provavelmente conduzir o mundo a uma recessão económica com as inerentes dificuldades acrescidas para o cidadão comum, para o comércio, para os serviços e para a pequena indústria.
Conduzindo a crise a uma situação de inflação, tal poderá ter fortes reflexos no poder de compra das pensões de reforma e agravar muito a situação dos reformados e pensionistas.

Então, e agora, que futuro? – Perguntamos nós. Que tipo de desenvolvimento se pode planear para um concelho do interior, de que Almeida é apenas um exemplo com que ilustramos esta análise?

Almeida, como qualquer outra região, precisa estar atenta aos sinais do tempo: o mais aconselhável caminho de progresso assenta na criação de riqueza, ou, se preferirem, no aproveitamento das potencialidades do concelho com respeito pelos valores ambientais e pela sustentabilidade do desenvolvimento. Urge, pois, pensar, para o futuro do concelho, uma estratégia que seja viável e coerente.

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